quinta-feira, 2 de março de 2023

Entre as árvores da Pasteleira



Quase todas as páginas matutinas dos jornais na internet afiançavam que a PSP havia detido, esta quarta-feira, quatro pessoas no Bairro da Pasteleira Nova, no Porto, onde foram também apreendidas mais de oito mil (oito mil!) doses de droga. Poder-se-ia, por isso, imaginar que o mercado se ressentiria desse contratempo logístico e que não haveria hoje estupefaciente para abastecer a clientela habitual do lugar. Ideia tão tola. 

Às quatro da tarde, quando por lá passei, cerca de uma vintena de lúgubres homens estavam já reunidos junto às bucólicas árvores do Parque Municipal da Pasteleira, arrimados a sobreiros e eucaliptos, injectando-se com o que houvesse e onde podiam, alguns até nas virilhas, de costas voltadas para o trânsito, ao qual jamais atrapalham. Para aqueles que enriquecem vendendo tais venenos, oito mil doses são nada. Não chegam a atrapalhar-se e o negócio continua a prosperar, destruindo, dose a dose, a sua vasta legião de marginais.

Um estudo publicado em 2019 pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência estimava que os europeus gastam anualmente 30 mil milhões de euros com os produtos deste tráfico. Trata-se, com efeito, de muito guito; muito mais guito do que aquele que sou sequer capaz de imaginar, embora muito pouco seja avistado entre a flora do Bairro da Pasteleira ou nos recônditos do Bairro do Viso, aonde só vão ter os deserdados do negócio e os seus contribuintes líquidos. 

As grandes fortunas andam por aí de avião particular, banhando-se nas águas cálidas dos emirados, na Tailândia, nas Baleares, nos paraísos artificiais da Indonésia, acelerando em grandes bólides e ajudando a manter o crescimento de várias economias. Ninguém lhes toca e não convém, por isso, que o façam. Também nunca se injectam nas virilhas à vista dos utentes dos transportes públicos.