Às quatro da tarde, quando por lá passei, cerca de uma vintena de lúgubres homens estavam já reunidos junto às bucólicas árvores do Parque Municipal da Pasteleira, arrimados a sobreiros e eucaliptos, injectando-se com o que houvesse e onde podiam, alguns até nas virilhas, de costas voltadas para o trânsito, ao qual jamais atrapalham. Para aqueles que enriquecem vendendo tais venenos, oito mil doses são nada. Não chegam a atrapalhar-se e o negócio continua a prosperar, destruindo, dose a dose, a sua vasta legião de marginais.
Um estudo publicado em 2019 pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência estimava que os europeus gastam anualmente 30 mil milhões de euros com os produtos deste tráfico. Trata-se, com efeito, de muito guito; muito mais guito do que aquele que sou sequer capaz de imaginar, embora muito pouco seja avistado entre a flora do Bairro da Pasteleira ou nos recônditos do Bairro do Viso, aonde só vão ter os deserdados do negócio e os seus contribuintes líquidos.
As grandes fortunas andam por aí de avião particular, banhando-se nas águas cálidas dos emirados, na Tailândia, nas Baleares, nos paraísos artificiais da Indonésia, acelerando em grandes bólides e ajudando a manter o crescimento de várias economias. Ninguém lhes toca e não convém, por isso, que o façam. Também nunca se injectam nas virilhas à vista dos utentes dos transportes públicos.