Algo muito especial e comovente aconteceu esta manhã na Villa Waldberta. O piso térreo da casa encheu-se de uma pequena multidão vinda de vários sítios, até da Áustria, para escutar uns quantos parágrafos de Uma Mentira Mil Vezes Repetida, publicado há dez anos pela primeira vez em Portugal e que teve uma existência efémera na Alemanha, graças à tradução do Michael Kegler e à edição da A1, que encerrou ou faliu pouco depois.
Este incrível grupo de pessoas sorriu enquanto o Michael lia passagens do livro em alemão e esgotou num ápice os exemplares disponíveis para venda, depois de terem ouvido o Gerd Holzheimer dizer que Uma Mentira Mil Vezes Repetida seria um dos livros que escolheria para salvar de um incêndio — que coisa absolutamente maravilhosa. Quiseram conversar comigo e até que eu visite as suas terras um dia destes, que talvez possa incluir mais tarde em outros livros. Cheguei a ver lágrimas nos olhos de outras pessoas.
Não há explicação para um momento assim, quando pessoas que nem sequer falam ou compreendem o nosso idioma se deixam tocar pelo que escrevemos um dia, há muito tempo, e estão dispostos a pagar para nos ouvir e ver, para levar para casa um pedaço de nós em forma de livro. Não sei ainda muito bem o que pensar de tudo aquilo que vivi esta manhã, nesta casa que é temporariamente a minha casa. Mas estou feliz, muito feliz.
De cada vez que um leitor encontra o seu livro, como me sucede tantas vezes, existe como um momento de magia, em que todas as coincidências parecem ter-se alinhado bonançosamente. Quando o livro foi escrito por nós... Ser-me-á agora impossível, também por isto, esquecer Feldafing. Muito, muito obrigado por tudo.
*cibergrama em cooperação com a residência internacional de artistas Villa Waldberta/Artists in residence Muniche/Bayern liest e.V.