terça-feira, 30 de agosto de 2022

Elogio de Marta Temido, ainda ministra da Saúde


 Hossana, que se demitiu a temível Marta e os médicos obstetras vão regressar em manada ao SNS. Hossana! Cessará, como por magia, a chantagem dos senhores doutores e dos sociais-democratas que lideram as principais associações profissionais do sector. Hossana! Os médicos vão desistir de encher os bolsos nos hospitais das companhias de seguros e lembrar-se-ão dos compromissos éticos e sociais inerentes à profissão. Hossana!

Não conheço Marta Temido, para que conste, de lado nenhum. Nada me liga ao PS e nunca votei nesse partido. Pelos motivos óbvios, também não sei quem será o sucessor de Marta Temido. Tenho, ainda assim, a sensação de que dificilmente Portugal teria conseguido arranjar uma ministra da Saúde mais eficaz, competente e persistente. Dadas as circunstâncias, Marta Temido fez o que pôde e até muito mais do que seria expectável. 

Quem vier a seguir, e a menos que seja capaz de operar milagres, fará inevitavelmente menos e pior. Se for tão volúvel e sensível a valores monetários como a maioria dos médicos, abandonará o governo ao fim de seis meses para ir trabalhar para o negócio privado da Saúde.

O problema da Saúde, creio, só se resolve se os médicos forem obrigados a retribuir ao Estado aquilo que o Estado neles investiu, permanecendo, não sei, 5 ou 10 anos no SNS (quem souber que faça as contas). Uma vez que ninguém parece interessado em encarar ou discutir esta possibilidade, continuarão a faltar médicos nos hospitais e nos centros de saúde, permitindo que uns quantos ganhem fortunas como tarefeiros contratados a peso de ouro.

Assim sendo, resta-me agradecer o serviço público prestado por Marta Temido, bem como a abnegação e a resistência a quatro anos de pressões às vezes escandalosas (lembrem-se da pandemia, por exemplo). O país não a soube merecer.