terça-feira, 21 de junho de 2022

Havia de vir outra vez o tinhoso


No autocarro descendente ia grande agitação, uns por irem mui indignados, os outros nem sim nem não. Avenida da Boavista abaixo, a pessoana viagem de comboio veio-me à memória assim que entrou uma utente barafustando que estivera três quartos de hora (inteirinhos!) à espera do transporte, acrescentando que aquela linha, a 201, é uma pouca-vergonha. Algumas vozes juntaram-se ao coro e o motorista, igualmente amofinado, berrou do seu posto que o problema reside no regresso das greves e no facto de a administração da STCP não querer saber dos motoristas. Redarguiu a irascível senhora que havia de "vir outra vez o tempo do Salazar" para ver se os choferes se punham com greves e plenários, e se não acabava logo a bandalheira. Novas vozes se ergueram para apoiar a puta da velha, a qual bradava que o passe lhe custa 40 euros, que precisa dele para trabalhar e que a empresa só quer saber de sacar o dinheiro aos utentes. A caminho também de uma reunião de trabalho, ocorreu-me, sei lá, que, se o tinhoso voltar, não haverá greves nem plenários, velhas fascistas a berrar nos autocarros ou blogues onde certos cromos escrevem o que bem lhes apetece sem terem de estar a olhar por cima do ombro para ver se algum pide os vigia. Pela parte que me toca, talvez não seja uma ideia assim tão ruim abster-me de continuar a entreter gratuitamente os democratas convictos que por aqui passem casualmente.