quinta-feira, 16 de junho de 2022

A culpa é do mosquito


Ignoro, prezado e acidental leitor, estimada e queridíssima leitora, se alguma vez teve necessidade de caminhar entre milhões de pequenos mosquitos, tão numerosos que dão a impressão de estar a surgir do chão todos ao mesmo tempo, parecendo que se infiltram por todos os orifícios do corpo que se apresentem desprotegidos. Eu vou-me habituando, obrigado. 

Em Castelo de Vide é comum que, após um período de calor, quaisquer três gotas de chuva que caiam façam eclodir uma espécie muito particular de insecto na zona histórica da vila, os quais entram nas casas às centenas de cada vez que encontram uma porta ou janela aberta, qualquer frincha que seja, obrigando a grande dispêndio de mata-moscas e outros químicos a fim de impôr alguma ordem nos lares. É necessário mostrar aos mosquitos quem manda (ou, pelo menos, quem sabe onde se compram os insecticidas). Mas trata-se, em todo o caso, de um horror sem nome. Provoca-me suores (mas não sei se é por ser obrigado a fechar todas as janelas, impedido o normal arejamento do sobrado).

Tratando-se de um fenómeno natural regular e com causas relativamente bem conhecidas, estranho, às vezes, que não haja ninguém empenhado em encontrar uma solução para este incómodo: se fosse um turista de passagem pela vila, dificilmente aqui voltaria, julgando, talvez, que havia caído numa qualquer favela ou cloaca de África, sem qualquer saneamento ou protocolo mínimo de salubridade. Mas, por aqui, a coisa parece normalíssima. Os autóctones fecham portas e janelas, saem de casa para não abafar nem morrer de inalação de mata-moscas e esperam que os mosquitos desapareçam tão misteriosamente como eclodiram.

Considerando as mais recentes modas gastronómicas, cogito frequentemente se poderei passar a alimentar-me destes bichitos alados. Mas temo que o PAN condene tal prática e argumente que os mosquitos são, por mais irritantes e horrorosos que pareçam, criaturas tão divinas e perfeitas como um homem, uma mulher ou um borrego acabado de engordar.