Embora certos factos o desmintam, talvez não seja ainda suficientemente velho para compreender o que leva um casal com alguma idade a tirar o Mercedes da garagem e a enfrentar o trânsito da cidade para ir estacionar na marginal e ficar ali a pasmar diante do lento desaguar do rio. É, de resto, muito normal que ele adormeça diante do volante com a boca aberta e o gasganete reclinado. Acontece aos melhores — e aos outros também. Mas, e não sei muito bem porquê, enterneceu-me a senhora que esta tarde vi à sombra das palmeiras do Passeio Alegre, se calhar dividida entre o ameno roncar do marido, a tentação de assistir ao trânsito das nuvens e a necessidade de evitar ser vista com o abastado dorminhoco, desviando o olhar de cada vez que alguém passava e olhava, por acaso, para o tão triste Mercedes, para a lamentável tarde do casal sem nada melhor que lhe ocupasse o tempo.