Estive ontem, tesoura da poda em punho, adestrando-me na arte milenar da limpeza dos galhos secos das oliveiras que um primo possui num terreno semeado de belos calhaus de granito que a natureza ali espalhou sem critério algum. Os borregos vieram, a dado passo, para ver-nos trabalhar e mordiscar as folhas sobrantes, largadas no chão de erva fresca para que mais tarde se queimem, e a tarde aprazível concluiu-se com uma amistosa fiada de minis e cigarrilhas.
Ignoro até que ponto a bucólica visão dos calhaus rudes no prado viçoso influiu na minha decisão de dedicar um post à espantosa história do menirzinho feio que há algures nos arrabaldes da vila, ou se o impulso está de algum modo relacionado com a leitura de Grand Hotel Europa, o romance em que Ilja Leonard Pfeijffer reflecte sobre o destino turístico do continente europeu e as perversões económicas, sociais, éticas e culturais que esta vocação impõe. Seja como for, o caso conta-se em poucas palavras.
Cravado na paisagem por homens da pré-história, alguns mui brutos e pouco afeitos às subtilezas do julgamento do futuro, o dito menir padece de uma espécie de defeito de fabrico, não sendo suficientemente cilíndrico ou, sequer, ovóide. Pode, por isso, ser facilmente confundido com outras pedras que a natureza largou na paisagem. Consequentemente, decidiu-se, com a benção do Ministério da Cultura, "requalificar" o dito menir, desbastando-se o respectivo triângulo granítico com o objectivo de o tornar mais adequado ao formato comum dos menires alentejanos — e, portanto, mais atrativo para a visitação turística (a notícia respectiva desapareceu misteriosamente e dela apenas ficou rasto no twiter, conforme a imagem que ilustra este post).
Ignoro, obviamente, se a obra se fará e o tosco menir passará algum dia a luzir, erecto e orgulhoso, nas selfies dos estrangeiros maravilhados com o megalitismo alentejano. Mas a simples ideia, confesso, me diverte bestialmente neste dia de borrasca alentejana, tão pouco propício a passeios, turismos e afins.