domingo, 10 de outubro de 2021

O amor, a morte, o júbilo, o medo









Segundo o El País, existe uma nova tendência no cinema, na televisão e nos videojogos: incluir neles personagens que se expressam em idiomas artificiais, inventados por linguistas — coisas, enfim, como o Fremen, o Dothraki ou o já velhinho Klingon. Não se trata, todavia, de promover algum tipo de diversidade cultural e linguística, uma vez que aqueles produtos são largamente dominados por um só idioma, o Inglês, cada vez mais monopolista e que, de algum modo, ameaça cerca de metade das seis mil línguas minoritárias que ainda persistem no mundo. Em 2017, a UNESCO estimava que, só a partir de 1950, mais de 200 idiomas haviam já morrido. Outros terão desaparecido entretanto, sem que a nenhum génio dos videojogos tenha ocorrido salvá-lo, nem que fosse reciclando o Cayuga, o Dalabon ou o Mirandês para fins recreativos. Em vez de preservar as palavras em que os homens e as mulheres comunicam há séculos ou milénios, com as quais expressaram o amor, a morte, o júbilo ou o medo, o mundo normaliza-se em torno de meia-dúzia de anglicismos vazios, perde diversidade e inventa idiomas destituídos de qualquer substrato cultural ou humanidade, úteis apenas, se calhar, para as máquinas que, mais cedo ou mais tarde, nos regerão sem necessidade, sequer, de se fazerem entender.