terça-feira, 4 de maio de 2021

Uso obrigatório de açaime na via pública e manutenção do distanciamento físico relativamente a pessoas que cumprem e fazem cumprir lei imaginárias








Lei n.º 62-A/2020, em vigor desde 28 de Outubro de 2020, e cuja vigência já foi prolongada pelo menos até Julho, diz muito claramente, no seu artigo 3º, que "é obrigatório o uso de máscara por pessoas com idade a partir dos 10 anos para o acesso, circulação ou permanência nos espaços e vias públicas sempre que o distanciamento físico recomendado pelas autoridades de saúde se mostre impraticável". O povo, não obstante, usa o preservativo respiratório em todo o lado, em ruas desertas e mesmo quando não haja vivalma a centenas de metros de distância, decerto convencido de que o vírus paira no ar como o espírito santo. Talvez para demonstrar que o fascismo nos está entranhado no sangue, há quem recrimine os que se limitam a cumprir a lei e aproveitam os intervalos para respirar como antigamente. Rosnam e ameaçam fazer como os bufos de antanho, como aqueles que incriminavam as bruxas, os judeus, as mulheres histéricas, os ateus, os comunistas e todos os que não usem a trela mais comum ou mais na moda. Espero, pois, que, de Julho em diante, estes zelosos cumpridores de leis imaginárias sejam obrigados a trocar as máscaras sociais, cirúrgicas e KN95 por açaimes de aço inoxidável, e que lhes fique pelo menos tão bem como ao Hannibal Lecter.

Nota: há dias, a caminho de um concerto do Manuel Cruz em Portalegre, o agente de serviço à porta do comando da PSP abordou-me com cara de poucos amigos para que pusesse a máscara na rua; estava com pressa, pelo que, em vez de recalcitrar e argumentar, acatei a ordem e segui caminho, evitando aborrecimentos desnecessários. A menos de 30 metros de distância, dezenas de jovens chillavam sem máscara nas várias esplanadas vizinhas da PSP. Mas aí seria a PSP a ter de aborrecer-se. Cada um faz o que pode. Eu escrevo posts de merda quando me faltam os tomates para me comportar como um cidadão como deve ser.