sábado, 10 de abril de 2021

O estado a que chegamos








Tenho cada vez mais dificuldade em defender o Estado de Direito, e as vantagens de viver segundo as suas regras éticas e democráticas, por ser impossível ignorar que a Justiça, uma das instituições fundamentais desse Estado de Direito, está entregue a gente cuja actuação parece permanentemente conduzida por motivações políticas, não oferecendo aos cidadãos a mínima garantia de independência e de equidade — de justiça, portanto. 

Fico frequentemente com a sensação, aliás, de que os magistrados são os primeiros a não acreditar no funcionamento da Justiça (talvez porque conheçam os seus meandros melhor do que ninguém). Por isso recorrem aos órgãos de comunicação social para procurar condenar sem julgamento e fazer tábua rasa do princípio fundamental da presunção da inocência até prova em contrário.

Também tenho sérias dúvidas sobre o sentido que faz um "jornalismo" que, por um punhado de clicks, condena e humilha sem julgamento durante anos a fio, limitando-se a ser a histérica caixa de ressonância de uma ou outra das duas facções que perverteram a democracia em função das suas motivações políticas. Pouco informa e limita-se cada vez mais a criar ruído e confusão, seja num processo de corrupção ou numa pandemia. 

À falta de um Salgueiro Maia que nos explique outra vez o estado a que chegamos, ninguém parece realmente interessado em reflectir sobre o que realmente está em causa. Os que sempre mandam nisto tudo continuarão a cantar e rir, e a fazer belos discursos vazios e sem consequências, até que se extingam as migalhas de democracia que ainda vamos tendo. Os neandertais estão à espera.