quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Washington, Monróvia, Kigali, Bangui

Não sei, à hora a que escrevo este post, se já é possível saber quem vai ser o presidente dos EUA nos próximos quatro anos. Também não me interessa demasiado. Aquilo que sei, a fazer fé nas reportagens dos enviados especiais e correspondentes, é que as principais cidades norte-americanas se estão a preparar para o dia após as eleições como se estivesse para chegar um tornado, um golpe de Estado ou uma guerra civil. As montras das lojas estão entaipadas, os pontos estratégicos cercados por redes e arame farpado, as ruas atravancadas de blocos de cimento e as milícias armadas até ao dentes — como se aquele fosse um país sem lei. Aquilo que sei, pois, é que basta um celerado sem a mínima noção do que seja um Estado de Direito para que "a terra dos homens livres", conforme diz o The Star-Spangled Banner, se transforme numa espécie de faroeste ou de pré-ditadura cravada no coração do primeiro mundo; e que, com algum azar, o ambiente em Washington poderá, a esta hora, não ser muito diferente daquele que já vimos em Monróvia, Kigali ou Bangui.