Conforme se poderá imaginar, sou tremendamente sensível à polémica em torno da presença de uma multidão no Autódromo do Algarve a fim de assistir a uma corrida de chaços, mormente aos argumentos do habitual coro dos indignados com tudo e mais alguma coisa. O meu olímpico desprezo deve-se a dois motivos fundamentais. Primeiro, os indivíduos que quiseram ver o espectáculo motorizado eram maiores, vacinados e estavam a borrifar-se para a pandemia, a saúde pública e as vítimas mortais da Covid. Em segundo lugar, porque sujeitos que pagam trezentos euros para assistir a uma chispada de popós estão intrinsecamente a gozar com aqueles a quem trezentos euros fazem falta para coisas tão extravagantes como alimentar-se, pagar a renda ou manter as contas da electricidade em dia. Não me emocionarei, pois, caso alguns dos amantes da fórmula um venham a contrair uma doença contagiosa grave. Se lhes nascesse uma árvore com picos na extremidade do tubo digestivo também não.