Respondi por escrito, há semanas, a uma entrevista do jornal Correio da Manhã a propósito do meu mais recente livro, a qual só esta sexta-feira foi publicada. Ocupa quase duas páginas. Na primeira só coube o título e uma fotografia. As perguntas e as respostas ocupam três quartos da segunda página. Curiosamente, e apesar de todo o espaço ocupado pelo meu retrato, a entrevista saiu truncada. Desapareceram misteriosamente uma pergunta e uma resposta:
O que há do pensamento do autor em ‘Tropel’?
O autor de "Tropel" é, antes de tudo, um cidadão com direitos e deveres. Neste sentido, crê que tem o dever de estar atento e alerta aos sinais e rumores que o mundo produz. Neste livro há, por isso, a inquietação e o desassossego que este clima autocrático e de ódio me suscitam. Há a vontade irrefreável de reflectir sobre o mundo ao meu redor e de, muito modestamente, procurar contribuir para alterar alguma coisa. E há o receio de que estejamos, de facto, apenas a assistir à repetição da História, das páginas mais negras da História, sem que tenhamos sido capazes de aprender com os erros do passado e como se ainda vivêssemos na Idade Média.
Que o avalie quem queira e de acordo com os princípios e valores que pareçam mais adequados à correcta compreensão deste inopinado fenómeno, relativamente ao qual não me foi dada qualquer explicação.