domingo, 11 de outubro de 2020
Um dia haveremos todos de comunicar com bonequinhos coloridos
Com o alto patrocínio do Presidente da República e o apoio de outras instituições públicas e privadas, anda por aí há dias uma campanha publicitária com intenções muito louváveis e beneméritas. Trata-se, segundo percebi, de evitar o desperdício alimentar. O diabo, como é costume, está nos detalhes. A dita campanha, ao menos na sua versão impressa, assevera, talvez com infeliz ironia, que "o erro está no dsprdcio", constituindo, pois, um notável contributo para a construção de uma novilíngua assombrosa. Se, há bem pouco tempo, o Português se viu espoliado de quase todas as suas consoantes mudas sem qualquer critério racional, a economia na tremenda delapidação que é a utilização de vogais e acentos deixará a língua portuguesa dos belos discursos de Estado prontinha para não servir para coisa alguma. Pode, se calhar, ser vantajosamente substituída por algum tipo de linguagem universal isenta do esbanjamento de letras e do gasto inútil do tempo necessário para se aprender a escrever e a falar um idioma decente, sem negligenciar, ainda, outra vantagem substancial do facto de comunicarmos todos com bonequinhos coloridos: os discursos do senhor presidente Mcl Rbl d Ss hão-de ficar um pouco mais curtos e talvez já não lhe apeteça, assim, discorrer a cada instante sobre todo e qualquer assunto (prática que, já agora, constitui na maioria dos casos um enorme dsprdcio de temp).