quarta-feira, 30 de setembro de 2020
O preço da lenha
O consórcio empresarial que durante oito anos publicou as coisas que escrevi informou-me hoje, conforme a lei, que procederá à destruição de 2.154 exemplares desses livros. Alguma coisa na minha consciência se revolve e angustia um pouco, uma vez que, de algum modo, sou também responsável por essa destruição ou, ao menos, culpado do lapso da soberba. Não me opus a que aqueles livros se imprimissem e condenassem não sei quantas árvores à condição de pasta de papel. Bem pelo contrário, escrevi-os de moto próprio e, em alguns casos, foi minha a iniciativa de fazer com que se publicassem. Lembro-me inevitavelmente de Pepe Carvalho, o personagem de Montalbán que queimava os volumes da biblioteca para se aquecer no Inverno, e também, como não?, de que os livros ardem a uma temperatura de 451 graus fahrenheit (232,77777778 graus centígrados). Há-de, a queima, produzir um calorzinho agradável nos dias mais frios. A propósito, o consórcio empresarial informa-me ainda que posso adquirir os exemplares condenados ao preço unitário de dois euros, acrescido de IVA e custos de transporte. Trata-se, creio, de um valor exorbitante a pagar por tão pouca lenha.