Uma investigação recente, realizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar — coisa séria, portanto —, concluiu que as caminhadas em espaços verdes urbanos reduzem os pensamentos negativos e repetitivos. Conheço bem os benefícios destes passeios no combate à neura, ao spleen e ao aborrecimento quotidiano. Vou muitas vezes, por isso, esticar as pernas nos caminhos do jardim da minha rua. Deambulo entre os cactos e as camélias, inspiro a plenos pulmões o perfume da terra molhada e surpreendo, às vezes, o cheiro do jasmim e, creio, também o do açafrão. Muitíssimo peripatético, detenho-me para ver os cogumelos irrompendo do chão e dos toros deixados à beira das veredas, que agora se cobrem dos sinais deste Outono ainda tão doce. Invejo o invisível jardineiro que ali labuta. Distraio-me com as mais subtis alterações da luz nos galhos do antiquíssimo sobreiro da parte mais remota do jardim, com a textura da madeira dos cedros ou com o modo como o louro-das-montanhas parece curvar-se para criar uma penumbra bonita. Circundo a clareira do bosque onde permanece o cadáver de uma árvore que morreu de pé, digna e bela como uma escultura ou um homem antigo e sábio. Também me entretenho com a família de galináceos que lá habita: o galo prateado e vigilante, a galinha choca liderando o passeio dos pintos recém-nascidos, pipilando de medo ou frio. Depois regresso a casa e parece-me sempre que mesmo os piores dias, ou os mais aborrecidos e tristes, se puseram um pouco mais claros, um pouco mais simples, um pouco mais sensatos. Eu também.