terça-feira, 19 de novembro de 2013

Enquanto não chega o Inverno


Desde o dia em que as folhas principiaram a cair das árvores, o cantoneiro do meu bairro tem como principal função varrer da rua e dos passeios os restos da última Primavera. É um rapaz novo, de cabelo rapado dos lados da cabeça e penteado com gel, que ouve música enquanto arranha o chão com a vassoura metálica para juntar em pequenos montículos as folhas que a brisa fria já espalha outra vez. Da janela de um dos prédios, enquanto fumo ao sol e observo o quase inútil labor, um dos trolhas que trabalha na renovação de um apartamento comenta o óbvio: que as folhas estão sempre a cair e que o vento as espalha antes de que o moço cantoneiro tenha sequer tempo de recolhê-las. "Tem que ser", responde o varredor resignado — e continua a varrer. Fá-lo-á até que não sobre mais nenhuma folha e o Inverno venha namorar com o corpo lúgubre das árvores nuas.