terça-feira, 26 de novembro de 2013

Acima das nossas possibilidades

Dado que estou um pouco farto de ver reportagens sobre aposentados com reformas de dois mil euros, prejudicados pela destruidora onda legislativa dos senhores que se/nos governam (riscar o que não interessa), deixem-me que vos conte uma história igualmente real: a história de um casal de aposentados com mais de 65 anos, que trabalharam desde que saíram da escola primária, e que auferem de reformas de 300 e 600 euros — essa fortuna. São os meus pais. Quando este mês recebeu o subsídio de férias, o meu pai constatou que, subtraídos os acertos do IRS e feitos mais não sei quantos descontos (que nem sequer conseguiu perceber; nem eu), estava na posse de um subsídio líquido de cento e poucos euros, o que, ainda assim, há-de permitir gastos muito acima das suas possibilidades. Temo, na verdade, que estejam também a viver acima das suas possibilidades todas as pessoas que, noite após noite, vejo alimentado-se das refeições gratuitas (que não conseguem pagar) disponibilizadas pela caridade nas muitas carrinhas que prestam este serviço na cidade. Temo, às vezes, que os meus pais venham, um dia, a precisar de recorrer também à sopa dos pobres, e não estou ainda certo de não vir a necessitar de fazer a mesma coisa. Há-de ser questão, se calhar, de o governo conseguir, enfim, cumprir as metas do défice.