segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sísifo na Trindade

Venho acompanhando com algum interesse o labor do indivíduo magrinho e moreno que tenta descolar pastilhas elásticas do chão de granito em torno da estação da Trindade. Tem uma máquina que liberta vapor pela extremidade e delimita quotidianamente o perímetro da sua intervenção com a autoridade que lhe é conferida por um colete amarelo-fluorescente. Fica ali, durante não sei quantas horas por dia, a borrifar e esfregar as nódoas escuras das pastilhas elásticas mil vezes pisoteadas e, depois, avança para os metros quadrados seguintes, loteados segundo uma ordem e uma lógica que ignoro. Quando chega ao fim da praça, o chão está outra vez semeado de pastilhas elásticas. Parece uma espécie de Sísifo cumprindo um castigo infinito e mal remunerado. Não sei quanto ganha. Não creio que tenha vivido alguma vez acima das suas possibilidades.