quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Certas coisas deviam ser criteriosamente evitadas
Holden Caulfield, o narrador de À Espera no Centeio, de J. D. Salinger, é um imbecil maravilhoso. Odeia tudo tão tremendamente que se chega a perceber perfeitamente os seus estúpidos motivos, e a simpatizar com ele e com o inacreditável cortejo de complexos e macaquinhos que traz no sótão. Raios me partam se, às vezes, não me apetece fazer como ele e provocar toda a gente até me tornar detestável e malquisto, e ser posto fora de todos os lugares. A maior parte dos sítios onde vamos não possuem, na verdade, nada que os recomende; e as pessoas, se vistas de um certo ponto de vista, têm todas particularidades muito detestáveis e cagarolas. Há excepções, evidentemente. E, às vezes, as pessoas também conseguem ser muito simpáticas e afáveis, e fazer com que gostemos realmente delas. É uma fraqueza que tenho e que me impede de ser anti-social: gosto de indivíduos, de ver como se movem, falam e sorriem e, afinal, como nem sempre são odiosos. Às vezes a humanidade enternece-me e faz-me feliz. Mas depois, insensatamente, ligo a televisão para ver as notícias.