Circular de autocarro na cidade transformou-se, para mim, numa espécie de missão, mas as viagens no metro incorporam, hoje, alguns dos grandes momentos da dramaturgia urbana contemporânea. O meu
cego preferido, por exemplo, teve hoje que atender uma chamada telefónica de um chato qualquer, mas despachou o interlocutor enquanto o diabo esfregava um olho. Depois de desligar o aparelho, o cego virou-se para alguém que ia com ele e comentou que, muito francamente, “há gente que não se enxerga”.