sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Um escravo preso dentro na cabeça
Visto que a boca não me dói tanto quanto tinha sido capaz de imaginar que aconteceria no dia em que tivesse as gengivas cosidas e uma espécie de grampos cravados nelas, dediquei uma parte do serão à leitura ociosa e recreativa. Temo sempre que esta ocupação possa ser, de certo modo, uma perda de tempo, mas sou forçado a concluir que sempre se aprende alguma coisa, mesmo nos livros menos bons. Esta noite, por exemplo, li aquela história segundo a qual, em Roma, César, quando regressava das campanhas vitoriosas contra os bárbaros e era glorificado pela população que assistia aos desfiles triunfais, tinha sempre ao seu lado um escravo que repetia "És calvo, velho e barrigudo", para que o herói se lembrasse de que era humano e devia, por isso, ser humilde. Não estou absolutamente certo da utilidade desta parábola para indivíduos sem nenhuma glória. Em todo o caso, e à cautela, eu tenho o meu escravo sempre comigo — dentro da cabeça.