domingo, 7 de novembro de 2010

Teoria da conspiração (ou uma polémica perfeitamente estéril)



É sempre possível, Francisco, ver tenebrosas conspirações onde elas podem ou não existir, que para o caso isso nem sequer importa muito. Creio que conheces perfeitamente a mecânica da coisa e, portanto, fazes por ignorar deliberadamente que o Prémio Jabuti é atribuído a várias categorias (poesia, romance, infantil, etc.) por escolha de um júri e que, depois, o Livro do Ano (ficção e não ficção) resulta de uma votação do público.

A democracia é lixada. Umas vezes, o público e o júri coincidem na escolha, como sucedeu em 2006 e 2009, anos em que Cinzas do Norte, de Milton Hatoum, e Manual da Paixão Solitária, de Moacyr Scliar, venceram na categoria Romance e também na votação para o livro do ano. Mas bastará dares uma vistas de olhos pelo site da Câmara Brasileira do Livro para constatar que, em 2008, o Livro do Ano foi para O Menino que Vendia Palavras, de Ignacio Loyola de Brandão, que ficou em segundo na categoria Infantil. Em 2007, outra "vergonha", como parece que gostas de lhe chamar: Resmungos, as crónicas de Ferreira Gullar, foi o Livro do Ano de Ficção, imagine-se. Em 2002, o LIvro do Ano foi para O Fazedor de Amanhecer, de Manoel de Barros, segundo classificado na categoria Infantil e Juvenil.

E podes ir por aí fora, se quiseres, e encontrar exemplos de mais "vergonhas" e "falsificações" próprias de "cenários da ditadura" (provavelmente alguns episódios terão até ocorrido durante a ditadura propriamente dita, que no Brasil nem foi há tanto tempo como isso). Mas também, é claro, podes fazer de conta que não é nada contigo e ver só a parte da verdade que te convenha para a missão de azucrinar a Dilma, que nem deve comer de cada vez que em Portugal se escreve alguma coisa desse género (e ela bem precisa de uma dietazita).

As pessoas presentes na cerimonia gritaram pela Dilma? Se calhar foi porque gostam dela. Ou apeteceu-lhes. Se tivessem gritado pelo Corinthians ou pela Sónia Braga era melhor? Era pior? Não faço ideia. Não gosto da Dilma nem do Corinthians, pelo que, se calhar, se eu lá estivesse, teria gritado pela Sónia Braga, pela Cleo Pires ou pelo Fluminense. Ou teria ficado calado e a pensar que o Leite Derramado é, muito simplesmente, um livro do caraças e que o prémio fica muito bem entregue.