segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Isto não vai acabar nada bem
Apareceu no lançamento do romance do Mário Lúcio Sousa na Póvoa de Varzim, subitamente materializado na última fila de cadeiras, o inevitável beato maldisposto, empenhado em fazer-se notado e em advertir os inconscientes dos riscos que existem quando se brinca com coisas supostamente sérias, como Deus e outras merdas. O que disse ele exactamente? Várias coisas, todas sem interesse. Mas eu apreciei particularmente a ameaça velada. Num tom pausado e grave, com o dedo um pouco espetado, avisou-nos de que a galhofa vai acabar mal. “E mais cedo do que se pensa”, acrescentou após uma pausa espantosa, dando a entender que dispõe de informação privilegiada sobre o juízo final e assim. Como sou tolerante, não me meti na discussão dos crentes. Mas, sendo incauto, cometi, logo a seguir, um novo pecado cabeludo. Depois de, em tempos, ter coadjuvado uma performance do Malangatana, batucando numa mesa enquanto ele emitia sons guturais, atrevi-me, desta vez, a tamborilar com os dedos enquanto o Mário Lúcio cantava Palavra. Deus não me assusta por aí além, mas, muito sinceramente, creio ter pisado o risco. Não me espantarei, por isso, se vários fantasmas de músicos mortos vierem instalar-se debaixo da minha cama com o fito de me aterrorizarem. É muito bem feito.