quarta-feira, 15 de setembro de 2010
A angústia do blogueiro antes de colocar o último ponto final
A tentação é enorme, quanto mais não seja porque é mais fácil desaparecer enquanto entidade blogosférica, ou digital, do que enquanto indivíduo composto por um conjunto considerável de proteínas, água e mais não sei o quê, cujo extermínio envolve sempre uma quantidade enorme de porcaria biodegradável. O único motivo pelo qual continuo a escrever no blogue é, como diria Cortázar, porque não o posso dançar, cozinhar ou pintar e, às vezes, desopila tremendamente poder escrever coisas perfeitamente idiotas, das quais me arrependerei dez minutos depois. Também ocorre, é verdade, a circunstância, não totalmente negligenciável, de não ter, aqui, que suportar o convívio com certos e determinados indivíduos, e, por outro lado, tenho poupado uma maquia considerável por poder praticar este género de psicanálise em forma de literatura-trash, evitando recorrer aos profissionais do ramo, que ou bem que pago as prestações da casa ou bem que dou de comer aos licenciados da terapia. Não tem, todavia, sido uma tarefa fácil sobreviver a tanto fracasso, mormente quando se constata o desastre inapelável em que se transforma tudo aquilo que ameaçou, um dia, poder constituir uma carreira auspiciosa e, por outro lado, se sabe perfeitamente que se é incapaz de recorrer a outros expedientes mais rentáveis para garantir a subsistência, tipo lamber cus, vigarizar o próximo ou ser cônsul honorário de um país qualquer (dá-se preferência aos que exportem diamantes). Seja como for, também me devo arrepender, daqui a dez minutos, de ter escrito mais este pedaço de esterco, pelo que, fatalmente, acabarei por apagá-lo e seguir adiante, pois que urge fingir uma certa normalidade, está tudo bem, calma, não foi nada, isto passa e tal.