sexta-feira, 2 de julho de 2010
O Gana — num remate se ganha, num remate se perde
Chego invariavelmente esgotado ao fim dos jogos do Mundial de futebol, como se também tivesse estado a jogar. Quando o árbitro apita para o final do jogo, não sei já quantas vezes torci as pernas para evitar uma entrada dos adversário, quantos sprints imaginários fiz, quantos cruzamentos da linha de fundo, remates, cortes de carrinho. Quando, há pouco, terminou o Gana-Uruguai, dirigi-me à pia da louça vergado pela derrota, de cabeça baixa, como se Gyan tivesse falhado com o meu pé direito, no último minuto do tempo de compensação, o pénalti que colocaria os africanos na meia-final com inteira justiça. Consumada a derrota com mais dois pénaltis falhados, abri a torneira da água quente e percebi, como hão-de estar percebendo os ganeses, que perderam de modo incrível uma oportunidade histórica, mas que viveram, por outro lado, um daqueles momentos mágicos que enchem os estádios e são a verdadeira razão para que os estádios se encham. Num instante, mais rápido que piscar os olhos, uma equipa derrotada, cujos jogadores já choram, ressuscita. Levanta a cabeça e, minutos depois, festeja enlouquecida. Um pénalti é o remate mais fácil à baliza, mas também o mais difícil. Não há pénaltis antecipadamente concretizados, como não há jogos ganhos antes de se jogarem. Suponho, claro, que isto há-de querer dizer qualquer coisa de bestialmente profundo, mas, sinceramente, estou agora demasiado cansado para pensar no assunto.