“Há estados socialistas e estados capitalistas e há o estado a que isto chegou”.
Isto terá dito Salgueiro Maia, a 24 de Abril de 1974, antes de sair do quartel de Santarém para permitir que a poesia saísse à rua e Portugal tivesse direito a um novo “dia inicial inteiro e limpo”. “O estado a que isto chegou” parece-me hoje uma expressão que descreve particularmente bem o, digamos assim, estado em que as coisas estão - em Portugal, no mundo e dentro da minha cabeça, na minha vida, debaixo da minha pele. “O estado a que isto chegou”, pois. Não é preciso um mestrado em História para saber como se faz para acabar com isto: basta um grupo relativamente bem organizado de indivíduos que os tenham no sítio. O caso complica-se, porém, numa terra de cobardes, num país de cobardes, numa vida medricas.