segunda-feira, 13 de julho de 2009

Loteamento

E talvez, afinal, se trate apenas de Julho, do mal de Julho. Por causa do final de Home, o filme de Ursula Meier, fui escutar Nina Simone outra vez e ouvi aqueles versos em que nunca tinha reparado: "She thinks her brown body/Has no glory./If she could dance/Naked,/Under palm trees/And see her image and realize/She would know/Yes, she would know". E, depois, uma coisa puxa pela outra, pus a tocar o CD do Vinucius, Toquinho, Jobim e Miucha, "gravado ao vivo no Canecão", e outra vez escutei a versão modificada de Carta ao Tom: onde normalmente se ouve "É, meu amigo, só resta uma certeza,/é preciso acabar com essa tristeza/É preciso inventar de novo o amor", há, antes, o velho Vinicius cantando, terrivelmente lúcido, aquele "meu amigo só resta uma certeza/É preciso acabar com a natureza/É melhor lotear o nosso amor". E faz sentido, parece, parti-lo aos bocados como a uma quinta abandonada e decrépita, a velha casa tomada pelos fantasmas, ameaçando ruir, e especular com ele, vender os lotes pelo melhor preço, permitir que aí nasçam urbanizações novas e bestialmente burguesas — e tirar o sentido das memórias, do passado, das frases que eram apenas frases e que o vento levou para outro lado, para outro homem, daquilo, enfim, que é só escombro, resto, cinza e nada. Faz sentido...