terça-feira, 23 de junho de 2009
Caixa negra
Nas profundezas do mar, parece, as caixas negras do avião da Air France que se despenhou há quase um mês ainda emitem um tíbio sinal, entretanto captado por uma das embarcações francesas que operam na zona. Os submarinos hão-de agora mergulhar atrás desse eco e, com sorte, encontrar o que restar do corpo da tragédia e os indícios que permitam esclarecer as causas do acidente. Ocorre-me que na vida, às vezes, sucede algo parcialmente semelhante: há como que um sinal de ultra-sons que pulsa, débil, e regularmente evoca a ocorrência dos acidentes de percurso e das pequenas tragédias individuais. Mas, ao contrário das entidades aeronáuticas, raramente enviamos equipas de resgate para investigar e tentar salvar alguma coisa de entre os destroços. Ao contrário do que sucede nos aviões, as caixas negras das pessoas não revelam coisa nenhuma, não permitem esclarecer, não clarificam. São apenas isso: negras, obscuras e imperscrutáveis.