quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os polícias são pessoas como nós



Pode-se, provavelmente, fazer intervenções bestialmente indignadas sobre o caricato negócio dos carros blindados para a cimeira da Nato que não vão chegar a tempo da cimeira da Nato, mas não é isso o que mais me preocupa. Lendo a notícia, percebe-se que os agentes da PSP, mal pagos, vão ter que enfrentar as eventuais manifestações e ameaças com equipamento inadequado, carrinhas Ford Transit que não são blindadas e nem sequer têm redes para proteger os vidros de possíveis pedradas dos manifestantes. Ocorre-me sempre, nestas ocasiões, que os agentes da PSP são trabalhadores como eu, pessoas relativamente humildes e desprotegidas, que tentam ganhar a vida como podem e que têm famílias para sustentar. Cumprem ordens como bons profissionais que são. Mas são pessoas e, ainda por cima, pessoas com fragilidades, dúvidas, medos e angústias. Durante a cimeira da Nato, é possível que tenham que enfrentar multidões enfurecidas, ou apenas zangadas – ameaçadoras, em todo o caso – apenas com carrinhas Ford Transit desprotegidas, bastões, granadas de gás lacrimogéneo, um revólver ou outro. Quando os manifestantes avançarem sobre eles com cartazes e palavras de ordem, gostava que tivessem isto na devida conta. Tratem-nos, por favor, com carinho e civilidade. No fundo, eles são tão explorados, humilhados e ofendidos como qualquer um de nós.