A 25 de Fevereiro de 2022, um dia depois da invasão da Ucrânia, a Eurovisão decidiu banir a Rússia do Festival da Canção. Ontem, mais de dois anos após o início da chacina de milhares de civis em Gaza, à bomba e à fome, a mesma organização decidiu que Israel pode continuar a participar no evento.
O assunto deste texto parecerá relativamente fútil. Trata, todavia, de mais uma manifestação da gritante dualidade de critérios e da total ausência de equanimidade, adoptadas nos últimos anos pelas potências ocidentais e pelos seus capachos. Esta espécie de relativismo hipócrita e fraudulento, consubstanciado em decisões como a execução de alegados criminosos sem julgamento ou as guerras iniciadas sob falsos pretextos, cria, com efeito o ambiente propício para o completo descrédito do chamado Estado de Direito e para a supressão dos valores éticos que guiaram a humanidade nos seus melhores momentos - abrindo caminho para todos os autoritarismos e para todas as perversidades, arbitrariedades, crueldades e iniquidades a que os novos fascistas queiram submeter os demais seres humanos.
Não será ainda o fim do mundo. Mas é o começo do fim de um mundo onde valesse a pena estar vivo.