segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Todo o livro é um palco

 Meticuloso cultor do nonsense, o Rui Manuel Amaral inventou em Zov um livro que é como um palco no qual evoluem absurdas personagens, pelo menos tão surreais e desajustadas da realidade quanto qualquer um de nós quando ninguém está a ver. Assemelha-se a uma peça de teatro avant garde, mas talvez seja apenas o reflexo lucidamente distorcido do nosso próprio rosto. O melhor exemplo disto é o tipo que está a serrar o galho da árvore alta no qual está sentado (e que é, digo eu, a cara chapada de um país a caminho do abismo suicida). No ponto a que isto  chegou, e tal como a rapariga da última cena, talvez apenas nos reste levantar o vestido e mostrar o traseiro aos que assistem narcotizados e indiferentes à grande tragicomédia do mundo.