«É uma das coisas que os patrões mais nos pediram», disse a ministra do Trabalho, há dias, quando questionada sobre uma das iníquas medidas previstas pelo pacote laboral do governo. Seja por desfaçatez ou por inépcia comunicativa, a governante tornou evidente, daquele modo, a verdadeira motivação deste e de todos os chamados pacotes laborais das últimas décadas: o objetivo passa sempre por satisfazer o patronato e nunca as necessidades daqueles que laboram.
O primeiro-ministro da Spinumviva procurou, aliás, apoucar a greve geral de amanhã, considerando que a paralisação tem «motivações políticas». A menos que Montenegro pretenda também desqualificar a atividade política (a que se dedica quase a tempo inteiro), não se compreende qual possa ser a utilidade daquele reparo. Uma greve geral é sempre um acto político e uma decisão política por parte daqueles que aderem e por parte daqueles que preferem ficar a trabalhar. Também é política a decisão de propor uma alteração à legislação laboral, sobretudo por parte de um governo minoritário que sabe de antemão que só a aprovará com o apoio dos energúmenos arruaceiros do partido fascista.
Também o trabalho é uma das actividades mais políticas a que um indivíduo de pode dedicar. Sabemo-lo, pelo menos, desde que Hegel explicou que o homem real, essencial e objetivo não é senão resultado do seu próprio trabalho. Mas Marx explicou - por muito que hoje exista um pacto de silenciamento sobre este assunto - que a concepção de Hegel peca por defeito, uma vez que só compreende o lado positivo do trabalho e não vê que ele é também uma forma de alienação e, consequentemente, de exploração e de depreciação daqueles que trabalham, aos quais nunca se paga de acordo com aquilo que efectivamente produzem e segundo as suas necessidades básicas.
A greve geral é, pois, uma decisão política por excelência e um acto de cidadania; é um momento de exercício democrático e de reflexão sobre o país que temos e o mundo que estamos a construir para os nossos netos, tendo como único critério aquilo que os patrões pedem aos governos a fim de aumentarem os lucros. Sejamos, pois, profundamente políticos.