segunda-feira, 10 de março de 2025

As terríveis consequências

 "O que estamos a criar é um monstro cuja influência vai mudar a história. Se é que vai sobrar alguma coisa da história! Mas é impossível não o fazer. Não só por razões militares, mas também porque seria uma falta de ética, do ponto de vista científico, não fazermos aquilo que sabemos que é realizável, sem cuidar de saber quão terríveis poderão ser as suas consequências."

O excerto precedente consta de MANIAC, a mais recente (e extraordinária) ficção de Benjamín Labatut, e serve de explicação aos avanços científicos e tecnológicos que permitiram a concretização da bomba atómica e da bomba de hidrogénio. Em ambos os projectos trabalhou um grupo de matemáticos e físicos excepcionais de origem húngara, liderados pelo também húngaro János (ou John) von Neumman, um génio amoral e fanático de uma espécie radical de racionalismo, ao qual se deve igualmente a invenção do primeiro computador digital, necessário para efectuar os impossível cálculos que permitiram a construção da bomba de hidrogénio e, de certa forma, também ao presente desenvolvimento da inteligência artificial.

De algum modo, aquelas frases servem também de mote para o avanço da ciência e da tecnologia dos últimos 150 anos, independentemente das "terríveis consequências" que as suas descobertas pudessem significar para a humanidade. Sendo verdade que estas novidades tecnológicas impulsionaram enormes progressos em outras áreas do saber, como a Saúde ou as comunicações, também é certo que, no momento em que escrevo este post, a comunidade humana foi capaz de evitar o pior (confirmando outra das teorias do Neumman, a da aniquilação mútua garantida). Mas nada nos garante que os homens e as mulheres vão continuar a ser capazes de controlar os monstros que vão criando.