quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Os grandes prestidigitadores

 Há um conto de Kafka no qual o autor checo parece coincidir com Foster Wallace na crítica implícita à sociedade do espectáculo. Não me recordo do título do conto - era o que faltava! -, mas nele surge o quase proverbial K., desta vez no papel de "grande prestidigitador", "apesar de - comenta o narrador - o seu programa ser um tanto monótono". E acrescenta: "É claro que a suposta sobrelotação da sala desempenha, sem dúvida, um papel decisivo em toda a impressão com que fiquei do espectáculo”.

Todos nos lembramos, suponho, do tempo em que o imitador português do grande prestidigitador americano era um murcão desconhecido e incapaz de ganhar, sequer, as eleições para a Câmara Municipal de Loures, e de como certos canais televisivos de entretenimento lhe lotaram a sala (para seguir a ideia de Kafka) e continuam a providenciar um público a este ilusionista (mesmo se se trata de um público que não foi ensinado a escolher bem, para acompanhar a terminologia de Foster Wallace).

Não é difícil concluir que o sucesso destes aldrabões depende em grande medida da "suposta sobrelotação da sala" que lhes é proporcionada pelos media. Um imbecil a falar sozinho (num banco de jardim ou num blogue), conforme sucede a este vosso criado, constitui um espectáculo apenas lamentável. Já um imbecil com um público é muito capaz de se tornar perigoso.