terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O matinal fascista

 O Volvo estava encalhado em cima do passeio, conforme é práctica comum entre os portugueses de bem. Na traseira do automóvel, quase colado a um autocolante com a palavra IRA (substantivo feminino que expressa "sentimento intenso de raiva ou indignação, cólera, fúria, manifestação violenta de irritação extrema, vingança") escrita em maiúsculas sob uma caveira, um outro papelinho mostrava o logotipo de uma organização nacional-fascista que me recuso a reproduzir. O tipo estava no café: grande, com o cabelo curto e o olhar mortiço de alguém com muito sono ou drogado desde a primeira hora da manhã. Teria talvez a minha idade e, durante muito tempo, ter-se-á envergonhado de ser o que é. Agora não. As redes sociais permitiram-lhe perceber que não está sozinho e que pode odiar e humilhar à vontade, com representação parlamentar e tudo. Frequenta o mesmo café aonde também vão os latino-americanos do bairro. Mas aí, estando sozinho, é só um lobo disfarçado de cordeiro.