sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Cardumes de água, imagens transumantes

 As crónicas de Fernando Alves na Antena 1 têm frequentemente o poder de nos iluminar as esquinadas horas do dia. Hoje, por exemplo, enquanto o céu se encastelava das massas líquidas que haviam de cair copiosas, ouvi-o dizer uma daquelas frases que nos ficam a reverberar numa corda secreta e íntima da consciência pouco consciente, como uma melodia que regressa sem ter porquê nos momentos mais inesperados do dia. Dizia esse texto matinal: "Fico a pensar num mercado que se possa abrir aos pastores de nuvens, cuja arte pudesse juntá-las em cardumes de água, vestidas só de vento". Agora que os rios transumantes já descarregaram as suas bátegas sobre o pó dos construtores de cidades, a frase regressa como uma imagem tão concreta que quase é possível sonharmo-nos também pastores de nuvens armados só com redes de apanhar borboletas, quimeras ou pérolas de orvalho.