quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

A catástrofe que se aproxima

 Num texto que tem por título A discreta grandeza da Europa, o escritor colombiano Héctor Abad Faciolince explica hoje, no El País, que o continente europeu conseguiu, nos últimos 80 anos, algo de extraordinário: a convivência civilizada de diferentes povos unidos em torno de uma ideia de progresso humanista. Não há no mundo, diz, outro caso assim.

À luz da convicção exposta por Faciolince, soa algo bizarra a pretensão dos novos fascistas europeus, recentemente declarada em Madrid, de voltar a tornar a Europa grande e cristã. À parte o oco triunfalismo que acomete estes tristes e torpes imitadores, tornar a Europa grande e cristã significa, no fundo, regressar ao período antes do fim da Segunda Guerra Mundial e regredir à Idade Média, às constantes guerras e disputas fronteiriças, à fome de que padeciam todos os que não pertencessem à nobreza e ao clero e a mais umas quantas coisas sórdidas de que os cidadãos europeus parecem ter-se esquecido.

Uma vez que os interesses da Europa Grande destes bandidos são incompatíveis entre si, e que, ao que já se percebeu, também parecem inconciliáveis com os da América Grande do energúmeno alaranjado, não espanta que a actriz alemã Hanna Schygulla ontem tenha declarado em Berlim que "a catástrofe se aproxima", uma vez que os nacionalismos "só trouxeram lágrimas e guerras". É este, mais tarde ou mais cedo, o desígnio de todos os nacionalismos: conflituar com o nacionalismo dos vizinhos do lado por qualquer Olivença, por qualquer Donbass, até que, muitas mortes depois, alguém venha tentar limpar o sangue.