quarta-feira, 17 de maio de 2023

Alienígena num universo paralelo


Não é difícil imaginar o que poderia sentir um alienígena se, digamos à hora do lanche, tivesse contacto com a civilização terrestre ou com algumas das suas manifestações mais exóticas, ou se se empenhasse em investigar os nossos hábitos mais arreigados. Eu mesmo, para não ir mais longe, frequentemente pasmo e me confundo perante certas manifestações (digamos) da humanidade, porém tão alheias ao comum, tão estranhas àquilo a que no meu tempo se designava por bom senso — e que Descartes, tão tolo, presumiu ser a coisa no mundo mais bem distribuída. Por exemplo: numa única vista de olhos pelos títulos em destaque no site de um conhecido jornal português, dei hoje de caras com duas notícias que me pareceram ditadas a partir de um lugar longínquo do universo conhecido, de um planeta estranho orbitando alguma das estrelas de Andrómeda. A primeira dizia respeito a um "comediante de Viana", Hugo Soares de sua graça, que terá causado revolta no Brasil por ter produzido uma "piada" sobre uma "Barbie com síndrome de Down". A segunda tratava da "polémica" resultante de um insulto que Tiago Ginga dirigiu "nas redes sociais" a um Zé Lopes. Leio-o uma e outra vez, e pergunto-me, portanto, quem será esta gente, estes hugos, tiagos, barbies e zés, quem serão os indivíduos que os conhecem e atentam à respectiva idiotia; e, enfim, que pasquinagem é esta, que alienígenas, que artificiais ou postiças inteligências tomaram o lugar dos jornalistas e agora se dedicam a reproduzir tais rudezas em instituições que costumavam dar notícias