Não me posso queixar. A ter de fazer um balanço pessoal do ano que amanhã termina, devo concluir que não o passei mal de todo. O mundo não está ameno, repleto das iniquidades de sempre, das guerras e das injustiças do costume, dos desvarios e das canalhices que a espécie não é capaz de evitar. Mas 2022 não foi um ano mau. Recordo uma cabritada na Póvoa de Varzim com amigos, a chocalhada da Páscoa de Castelo de Vide, um novo livro e vários ocasos lindos de morrer; um mergulho no mar de Portimão, belas corridas e sessões públicas difíceis de esquecer. Houve festa na Baixa pela conquista do campeonato nacional de futebol. Dei as primeiras aulas da minha vida, comi e bebi bons vinhos, e tive novos trabalhos com que me entreter. Brinquei e ri com o meu neto, e retribuí como pude o carinho que as minhas pessoas me dedicam. Também conquistei o direito a passar dois meses e meio na Baviera, diante do lago Starnberger e dos Alpes, e a cumplicidade de novos amigos. Terminei outro livro. Caminhei na neve e no gelo. Também perdi tempo e pessoas, como qualquer um, e irritei-me sem necessidade. Mas amanhã, quando o ano estiver terminando, erguerei para 2022 um brinde convicto com o meu copo meio cheio. Obrigado.