quarta-feira, 29 de junho de 2022

Façam lá o favor de desinventar a humanidade


Também não gosto de armas e, se dependesse unicamente do meu alvedrio, o mundo havia de ser reinventado de alto a baixo e desde o início dos tempos. Mas, confesso, provoca-me uma certa perplexidade que alguns grupos de manifestantes se juntem nas principais cidades portuguesas empunhando cartazes pela paz ou contra a entrega de armas à Ucrânia. Estão obviamente no seu direito, bem entendido, o que constitui, em si, uma liberdade actualmente vedada aos cidadãos russos. Mas queriam o quê ao certo, estes anjos da paz? A repetição do 21 de Agosto de 1968 na Checoslováquia? Os russos recebidos com flores e hinos sobre os amanhãs que cantam? E de que lado estariam estes angélicos manifestantes se, vamos supor, os EUA resolvessem amanhã invadir Cuba ou a República das Bananas? Ou se o exército espanhol atravessasse depois de amanhã as fronteiras de Valença e Elvas?

Também, garanto, sou pacifista à brava e aprecio bastante o frenesim das mánifes. Prometo, de resto, estar presente quando pudermos festejar todos juntos a desinvenção da espécie humana.