Estou como um abade (não, todavia, desses que comem criancinhas). Sucede simplesmente que, quando ao final da manhã me aprestava para ir fazer uns ovos mexidos ou assim, fui acometido por uma vontade irrefreável de comer molhinhos. Trata-se de uma espécie de enroladinho de tripas de borrego, preso por um lacinho das mesmas e cozinhado num suculento molho de tomatada. Serve-se comummente com batata frita e é uma coisa digna de se ver (e de se comer). Combinando, suponho, as tradições judaicas e árabes desta parte da Lusitânia, é um acepipe que integra os hábitos culinários pascais, mas que pode ser degustado durante todo o ano em certas casas selecionadas da vila. Prova disto é que me alambazei há pouco com uma dose desse pecado em forma de almoço, em flagrante contravenção com as normas da alimentação saudável, vegetariana, vegan, macrobiótica ou capaz de prevenir o colesterol e as maleitas cardiovasculares. Mas que se dane o colesterol. Se hei-de falecer de uma coisa qualquer, que seja disso ou do doce pecado da gula. Bom apetite.