Os anos passam, os regimes sucedem-se, os políticos revezam-se, as gerações mudam, as modas evoluem, os partidos trocam de nome e até os séculos transcorrem lentamente — mas Portugal (ou o mundo, não é possível ter a certeza) mantém certos vícios que se repetem e perpetuam para lá de toda a razoabilidade. Vendo as notícias, o que nelas há de artifício e aparência, mas também a substância profunda que, às vezes, as sustenta, fica-se com a sensação de que o final da cena d'Os Maias em que João da Ega vai ao jornal A Tarde podia ter acontecido ontem ou em qualquer dos dias decorridos desde que este país se fundou. Passem os anos que passarem, parece que ecoa permanentemente aquele "toque a rebate" que convoca "todos os hábeis para o saque da Pátria inerte". Os jeitosos até podem ter mudado e refinado o método, mas a depredação continua tão daninha como quando os cruzados tomaram posse e dividiram entre si as terras e os bens alheios que encontraram pelo caminho.