Desde as sete da manhã que há um alvoroço de pássaros no céu da vila. Agora são dez. Estão 23 graus à sombra e o dia promete ser quente. As andorinhas chilreiam e cruzam o ar azul, transparente, em direcções desencontradas. As esplanadas vão-se enchendo de gente enquanto se abrem os guarda-sóis. A cervejaria passa Tom Jobim, João Gilberto e Vinicius de Moraes. Os velhos descem à rua principal com as suas bengalas — vi uma estacionada a uma porta, como pronta e ansiosa à espera do dono —, as suas boinas, o passo lento e trôpego, e as máscaras obrigatórias. Numa das esquinas, um cigano velhote está a vender cabeças de alho numa cesta de vime, sentado à soleira de uma porta. Ergue o rosto para me dizer um bom dia quase radioso. O pai dos meus primos abeira-se para me cumprimentar. Olha para o laptop e pergunta se sei o que, numa sala de computadores, diz o computador maior a um mais pequeno. Digo que não. Gosto de ouvir anedotas novas. "Tão pequenino e já computas?", é o que diz o computador grande. Tão pequenino.