quinta-feira, 21 de março de 2019

A maldição de Marcos Sacatepecuez

Marcos Sacatepecuez, o escritor belizenho, é apenas uma personagem obscura do romance "Uma Mentira Mil Vezes Repetida". A seu respeito se diz, a dado passo do enredo, que estava amaldiçoado, desde logo porque, "enquanto viveu, os seus livros foram publicados por várias editoras europeias, as quais, por coincidência ou má sorte, acabavam invariavelmente por declarar falência".

Tratava-se, bem entendido, de uma ironia sem pretensões, a qual aludia ao facto de algumas das editoras que outrora publicaram livros da minha autoria terem acabado insolventes e encerradas, naufragando num mar de papel e tinta que não se vendeu por não interessar a quase ninguém.

Não sendo supersticioso, não posso deixar, contudo, de notar como o livro continua vivo e, mais do que isso, a contaminar a realidade. Soube recentemente, durante o festival Correntes d'Escritas, que a alemã A1, única editora europeia que publicou "Uma Mentira Mil Vezes Repetida", declarou falência no ano passado. Soçobrou e não há nada a fazer, excepto, talvez, tentar não voltar a desassossegar o suave remanso de capas coloridas e textos de auto-ajuda em que o mercado editorial parece navegar com maior desafogo.