sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Coletes amarelos

As manifestações convocadas para hoje pelo movimento Coletes Amarelos Portugal constituiu um enorme sucesso. Bem sei que eram, ao todo, meia-dúzia de gatos pingados sem qualquer plataforma reivindicativa minimamente coerente, mas não houve televisão, rádio ou jornaleco online que não tenha dedicado ao fenómeno vários e elucidativo directos a partir dos mais diversos pontos do país. Impressiona como uma mão cheia de animadores de claque e outros tantos ressabiados das ditas redes sociais conseguem incomodar tão significativamente a vida dos cidadãos e contribuintes comuns, polícias e jornalistas incluídos (os quais, aliás, estavam presentes nas manifestações em muito maior número que o dos manifestantes propriamente ditos).

Não menos impressionantes eram as palavras dos manifestantes que se escutavam nas já referidas reportagens, nas quais se misturavam a ignorância pura e simples, a falta de informação, o desequilíbrio psiquiátrico mais básico, os lugares-comuns contra os políticos, a desconfiança relativamente à banca, os insultos banais, mero aproveitamento por parte de outros movimentos de contestação social e um ou outro descontentamento justo, ali transformados, porém, em desabafos um pouco desfasados do cenário paranormal instalado. O que querem, afinal, os coletes amarelos? Ninguém parece ter a mais pálida ideia. Tudo e mais um par de botas? Nada ao certo?

O único traço comum aos vários manifestantes que escutei consistia, aliás, no uso do colete amarelo que serve para mudar pneus furados na estrada. Graças ao avassalador impulso da mais chã imitação, um punhado de portugueses pôde assim desfrutar do poder de incomodar o pagode e de falar para os microfones da televisão, trazendo o mais sórdido das redes sociais para a luz do dia. Equacionei, de resto, juntar-me ao protesto, reivindicando um dia de manifestação mais soalheiro ou no qual, ao menos, não chovesse. Tenho a certeza de que a culpa é do governo.