domingo, 9 de março de 2014

Água sem ninguém


















Nove de Março, nove meses depois, é outra vez domingo — não em mim, mas no mundo ao menos. Reparo que desde Agosto tenho a fotografia das águas de um ribeiro a servir de fundo do telemóvel. Lembro-me de tudo outra vez: de ser Agosto e estar calor, e de haver uma mulher banhando-se num pequeno charco de águas límpidas entre os penedos do curso desse rio na montanha. Numa outra fotografia via-se a mulher, mas na imagem que me serve de "papel de parede" já não há ninguém, apenas a água transparente banhada pelo sol de Agosto desenhando arabescos de luz no fundo arenoso do rio. Não sei agora quem era a mulher que então julguei conhecer e que, naquele instante, tinha mergulhado quase nua na ribeira fresca. Agora — no rio, no fundo do telemóvel, na minha vida — não há ninguém. Apenas a memória magoada de uma tarde feliz.