quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O cigano Melquíades

Li o romance Cem Anos de Solidão em 1987 ou 1988, não tenho a certeza. O livro foi-me emprestado por um colega do gabinete de contabilidade onde então eu trabalhava em part-time durante as horas que não estava na escola, escriturando os livros de Razão e de Actas. Gostei tanto do romance que comprei depois (a data de impressão é de Novembro de 1988) um exemplar para mim, creio que na Feira do Livro que nesse tempo ainda decorria na Rotunda da Boavista (onde agora, pelos vistos, vai regressar). Desde então, o romance tem permanecido perto de mim. Passou pelas várias casas onde morei, por várias estantes e várias vidas, amarelecendo na lombada e enchendo-se de uma poeira doce e do mágico cheiro do papel velho. Regressei ontem ao livro, à frase de abertura que muita gente conhece de cor, "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria e recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo", mas, não sei porquê, o que mais me interessou nas primeiras páginas não foi nenhum dos Buendía ou as particularidades da cidade de Macondo. Fascinou-me, acima de tudo, o cigano Melquíades visitando regularmente Macondo com a sua dentadura postiça ou a fórmula para duplicar o ouro. É uma personagem magnífica — mas nem sequer me lembrava dele.