A Câmara do Porto, através da empresa municipal Porto Lazer, tem estado a organizar, em sigilo, um evento alternativo à Feira do Livro, que vai decorrer no final de Julho. Envolverá várias livrarias da cidade, responderá pela designação Letras na Avenida e será integrado no projecto Primeira Avenida — aquele que tem um orçamento de um milhão de euros, não respeita o trabalho dos artistas que convida para o dito Edifício Axa, no qual, por uma extraordinária coincidência, está também instalada a sede de campanha do candidato-independente-do-CDS-e-de-Rui-Rio à presidência da Câmara do Porto.
Independentemente dos méritos da iniciativa, que de algum modo colmatará a não realização da Feira do Livro, o Letras na Avenida custará dinheiro, saia ele do orçamento da autarquia ou dos fundos comunitários do projecto Primeira Avenida (que também é dinheiro dos contribuintes europeus). Haverá empresas contratadas para fornecer os espaços de exposição dos livros e também para assessorar o evento e produzir a sua programação. Não estou a par dos preços de mercado, mas suponho que os custos não devem ser inferiores aos 75 mil euros que a câmara não quis pagar a fim de viabilizar a Feira do Livro. A isto acresce o facto de as livrarias que assegurarão o evento não disporem de condições para praticar os descontos que garantiam boa parte do interesse daquele que foi, durante 82 anos, um dos mais importantes eventos culturais da região.
O Porto terá, pois, a sua feirinha de fazer de conta e de propaganda, paga por fundos europeus. Fica evidente, em todo o caso, que teria sido muito fácil, com boa vontade e bom-senso, manter uma Feira do Livro independente, que não seja só um evento de animação de rua sob a batuta intolerante de Rui Rio (o indivíduo que chegou a achincalhar publicamente, já depois de morto, o único Nobel da literatura de língua portuguesa, José Saramago). É o que, de resto, exigem os já mais de cem autores que subscreveram o manifesto pela tradicional festa dos livros da cidade, pela qual nos reuniremos, nos dois próximos sábados, na Praça da Liberdade.
