segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Notas de uma corrida matinal
Olhar e ver são, evidentemente, actividades muito diferentes. Tal como passar e sentir. Mas não me alongarei sobre isto. Apenas direi que, esta manhã, correndo por aí, cheirei mais agudamente a fumaça do trânsito a caminho da Baixa, o cheiro a óleo queimado que produzem os escapes dos automóveis. Também notei como as nuvens se encastelavam no horizonte, a textura que tinham, e vi como as folhas dos plátanos começam a desaparecer nos caminhos do Parque da Cidade, desvanecendo-se muito devagar, já quase negras, entre a lama do chão, debaixo de novas camadas de folhas maduras. Reparei no fulgor bravio das ondas após a noite de tempestade, no brilho encerado que têm as folhas dos carvalhos depois que morrem e como qualquer raio de sol, rompendo entre as nuvens, transmite ao corpo um calor morno e bom. À hora a que antes havia um autocarro triste e baço, uma redacção vazia, há agora um mundo novo de sensações à mão de semear. Só tenho de ser capaz de me continuar a erguer da cama assim que o dia nasce, antes que a cidade ocupe os espaços que o breu da noite libertou.